O suco de laranja, uma vez símbolo da mesa de café da manhã americana, está perdendo espaço nos hábitos de consumo dos Estados Unidos. Essa mudança, acompanhada por desafios históricos na produção, especialmente na Flórida, coloca em xeque a sustentabilidade da citricultura na região. Com quedas drásticas no consumo e na produção, além de problemas climáticos e doenças nas plantações, o setor enfrenta um cenário de transformação que vai muito além das preferências alimentares.
Mudança nos Hábitos de Consumo de Suco de Laranja
O consumo per capita de suco de laranja nos EUA caiu de quase 20 litros por habitante por ano, nos anos 2000, para apenas 8 litros em 2023. Essa redução reflete uma combinação de fatores: mudanças nos hábitos alimentares, busca por opções mais saudáveis e baratas, além de uma preocupação crescente com as calorias ingeridas. Os consumidores passaram a substituir o suco de laranja por água, chás e bebidas funcionais, que se alinham mais às novas tendências de saúde e bem-estar.
A alteração no comportamento do consumidor representa um desafio significativo para a indústria de suco, que durante décadas associou o produto a um estilo de vida saudável e nutritivo. A frase de impacto “Drink an orange”, popular nos anos 1920, hoje parece distante da realidade atual.
Produção de Laranja na Flórida: Uma Indústria em Declínio
Enquanto o consumo diminui, a produção de laranjas na Flórida, principal estado produtor nos EUA, também sofre um declínio sem precedentes. A safra de 2024 está projetada para alcançar apenas 12 milhões de caixas, um número alarmante quando comparado às 242 milhões de caixas colhidas em 2004. Este é o menor volume registrado desde 1930.
Vários fatores explicam essa redução. Furacões devastadores têm impactado diretamente as lavouras, mas o maior vilão é o greening, uma doença bacteriana sem cura que reduz drasticamente a produtividade das árvores. Essa combinação de problemas criou um cenário insustentável para muitos produtores.
A Crise das Empresas Produtoras
A Alico, uma das maiores produtoras de laranjas da Flórida e fornecedora de marcas como a Tropicana, é um exemplo emblemático da crise. Após uma redução de 73% na sua produção nos últimos dez anos, a empresa anunciou que a safra de 2024 será sua última. De acordo com o CEO, John Kiernan, os custos elevados causados pela doença e pelos danos climáticos tornaram o cultivo de cítricos economicamente inviável.
Além disso, a valorização das terras da Flórida, impulsionada pela expansão urbana, incentiva a conversão de antigos pomares em áreas para desenvolvimento imobiliário. A Alico, por exemplo, pretende diversificar seus ativos, investindo em empreendimentos imobiliários e outros usos para suas propriedades.
Impactos e Perspectivas do Consumo de Suco de Laranja
Os desafios enfrentados pela citricultura na Flórida vão além das adversidades locais. O Brasil, maior exportador global de suco de laranja, se beneficia da redução da competitividade americana. Segundo Marcos Fava Neves, especialista em agronegócio, a concorrência com os preços brasileiros, aliados à maior eficiência produtiva, dificulta ainda mais a recuperação da indústria nos EUA.
Além disso, especialistas destacam que a luta contra o greening é uma batalha de longo prazo, sem soluções rápidas à vista. A pressão por alternativas mais rentáveis para o uso das terras agrícolas só agrava o cenário.
A transformação da citricultura americana não apenas altera o mercado global de suco de laranja, mas também reconfigura o destino de uma região que, por décadas, baseou sua economia na produção cítrica. Se a Flórida já foi sinônimo de laranjas, hoje o setor luta para sobreviver em meio às mudanças de consumo e aos desafios climáticos e sanitários.
Gostou do conteúdo? Veja mais no nosso blog sobre o crescimento do agronegócio em 2025!
Fonte: Brazil Journal