A vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos em 2024 traz implicações significativas para o agronegócio mundial e brasileiro. Com uma postura protecionista e a promessa de ampliação de tarifas, Trump reforça seu compromisso com uma política de “América em Primeiro Lugar”. O republicano propõe tarifas de até 10% sobre importações e 60% especificamente para produtos chineses, em uma tentativa de favorecer a produção nacional dos EUA (FoodNavigator USA) (Morningstar).
Impacto no Comércio Global e Perspectiva para a Soja Brasileira
A política tarifária de Trump já demonstrou seu potencial de redistribuir fluxos comerciais durante seu primeiro mandato, e especialistas brasileiros observam um cenário de benefícios e riscos para o Brasil. De acordo com Felipe Jordy, da consultoria Biond Agro, uma nova guerra comercial entre EUA e China poderia impulsionar prêmios da soja brasileira, porém com menor intensidade que em 2018. “Hoje, o Brasil já é o principal fornecedor de soja para a China, então o impacto sobre os prêmios de exportação tende a ser mais contido” (Canal Rural).
Contudo, a safra recorde esperada para 2024/25 — que pode alcançar 164,8 milhões de toneladas de soja — coloca desafios. Com mais de 60% da produção destinada à exportação, o Brasil se vê dependente do consumo chinês para manter a liquidez dos produtores. Se a China negociar prêmios mais baixos, a rentabilidade dos agricultores pode ser afetada. “Uma oferta abundante aliada ao poder de barganha chinês cria um cenário desafiador para os prêmios brasileiros”, explica Jordy (Money Times) (Band News).
Geopolítica e Vantagens Competitivas para o Brasil
Christopher Garman, do Eurasia Group, destaca que o Brasil ocupa uma posição estratégica na geopolítica agrícola devido ao interesse chinês em reduzir sua dependência dos EUA. “O Brasil já possui um market share maior na importação de soja pela China em comparação ao início do primeiro mandato de Trump, o que reduz o efeito de um novo conflito comercial sobre o redirecionamento da demanda” (Notícias Agrícolas).
No entanto, a alta dependência do mercado chinês exige cautela. João Rebequi, especialista da Ag4UP, alerta que, apesar da potencial vantagem para o Brasil, a concentração de exportações para a China torna o setor vulnerável às oscilações nas negociações e nos preços globais. “A lição das disputas comerciais anteriores é clara: a geopolítica do agronegócio traz tanto oportunidades quanto grandes desafios”, conclui Rebequi (CompreRural).
Reflexões para o Futuro
A vitória de Trump pode beneficiar o agronegócio brasileiro ao criar oportunidades para maiores exportações para a China. No entanto, a forte dependência dos prêmios e as questões logísticas e de armazenamento são pontos críticos para garantir a rentabilidade e a resiliência do setor. O momento exige que o Brasil equilibre sua estratégia de exportação com parcerias regionais e diversificação de mercados, reduzindo a exposição a uma nova rodada de incertezas globais.